Entrevista publicada no dia 30/07 no site da prefeitura de Vitória(http://sistemas6.vitoria.es.gov.br/diario/noticia.php?idNoticia=1304) realizada pelos jornalistas José Carlos Mattedi e com a colaboração de Brunella França.
Quando foi o primeiro contato com o conto "Menina" de Ivan Ângelo?
Foi em 2002 quando estudava em Ouro Preto. Um amigo (que também é ator e diretor de teatro) me deu a tarefa de encená-lo, pois, para ele, o texto tinha muito a ver comigo. Me apaixonei na hora, mas neste período eu não consegui fazer uma boa adaptação. O texto ficou guardado por um tempo.
Como foi o processo de transformação do conto em monólogo?
O texto é forte e aborda temas como a infância, relação familiar, escola. O meu processo foi agregar ao texto histórias minhas e de algumas pessoas. E partir para uma busca em transformar o texto do Ivan Ângelo numa estrutura menos narrativa. Muitas imagens sugeridas foram transformadas em ação no teatro.
Outro processo foi o de ouvir algumas crianças sobre o que significava a palavra "desquitada". Isso me ajudou bastante a entender um pouco do universo da Ana Lúcia e o seu medo do significado da palavra. Ouvi uma criança dizer que desquitada significava "puta". Imagina isso hoje, que nem se usa mais a palavra desquitada, e, sim, separada. Mas demonstra que ainda existem preconceitos que precisam ser quebrados.
Alguns casos contados no texto são verídicos, por exemplo, a menina que se esconde no guarda-roupa e a lembrancinha com a camisa do pai. Mas na adaptação a minha preocupação maior foi a de não deturpar a história do Ivan. Os elementos agregados tiveram um peso de complementação daquele universo proposto pelo autor. Apresentei a adaptação para o Ivan e ele gostou muito.
Como foi a preparação para a peça?
O processo de montagem durou 15 meses e muitos profissionais foram chamados para colaborar. Mesmo sem patrocínio para a montagem, eu consegui reunir pessoas interessadas no trabalho. Quem chegava se apaixonavam pelo texto e pela proposta, e isso tornava o processo mais fácil.
O processo de montagem se baseou numa pesquisa sobre como íamos contar a história da Ana Lúcia. Como a Virginia Jorge é cineasta, há um naturalismo forte em cena. Eu converso com a plateia, contando e vivendo a história. No período de preparação, fizemos uma pesquisa corporal com o Leonardo Patrocínio. Ele me ajudou muito na mímica. O figurino foi concebido pela Luiza Fardin e inspirado no Parangolé, que é uma obra do artista plástico Hélio Oiticica. É uma obra que se transforma, assim como a personagem em sua busca por conhecer mais. O Juliano Gauche colaborou com uma trilha original, o que agregou valor espetáculo.
É um espetáculo influenciado pelo Teatro Essencial e o peso do espetáculo está na minha interpretação. De modo que se não tiver nenhum outro elemento (luz, trilha ou até mesmo o figurino), o espetáculo pode acontecer. Mas, acima de tudo, foi um projeto feito com muito carinho e cuidado. Resultou num espetáculo simples e bonito.
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A Fabíola tem algo da Ana Lúcia? Qual sua relação com a personagem?
A minha mãe também foi costureira e não fui criada com um pai. Na escola também passava pelos mesmos problemas. É engraçado como nos vemos nos personagens.
Por onde já viajou com a peça?
Nossa circulação começou em dezembro de 2007 e passamos pelo Teatro de Viana, Fafi, Cecri Serra, Teatro Galpão, Projeto Casa Brasil, Cecri do Morro do São Benedito, Presídio Feminino em Tucum e Festival de Teatro de Rua em Resende (RJ). Vamos nos apresentar no dia 7 de agosto no Festival de Inverno, em Ponte Nova, e ficaremos em cartaz no Sesi do Rio nos meses de setembro e outubro deste ano.
O que você sente de resposta do público ao espetáculo?
O espetáculo é sempre muito aplaudido e o público se emociona bastante. Tem casos de pessoas que desabam a chorar na plateia. Isso é muito legal. Mas o espetáculo tem a pretensão de tocar, emocionar e de ser bonito.
O que você aprendeu encenando esse texto?
Se tiver alguma dúvida, pegue um dicionário! (risos) Agora sério. É um texto poético e doce. Eu sempre me lembro da minha infância. Mas, de fato, depois desse espetáculo comecei a valorizar mais a relação com minha mãe e minha família.
E, como atriz, é um grande desafio fazer um solo, mas ao mesmo tempo prazeroso ver a reação da plateia, ver como eles se relacionam e se identificam com o texto. Os adultos mergulham numa sessão de nostalgia e as crianças se vêem em seu presente. É muito bom proporcionar isso.
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